sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Crianças no Inferno


Crianças no Inferno
- Pr. Walter Brunelli

Certamente este título causará impacto ao prezado leitor, não pela menção
do inferno, mas pelo fato de se admitir a presença desses pequenos seres,
quase angelicais, naquele terrível lugar.
Isto parece impossível dentro de uma teologia governada por uma tradição
que tem as suas raízes num estereótipo (1). A satisfação pela explicação
de um assunto, que parece ter sido dada, leva-nos a virar a página para
outro, quando aquele carecia ainda de uma revisão. Eis o que se passa com
a nossa sistemática na área da soteriologia infantil (2).
Encaremos este assunto sob uma perspectiva bíblica, antes que pratiquemos
mais injustiças com as nossas crianças.

Dois Falsos Argumentos
Costuma-se dizer que até os sete anos de idade a criança é inocente. Não
são poucos os defensores desta idéia carente de um embasamento bíblico.
Alguns falam ,porque ouvem de quem não sabe o que diz.
Existe também aquele que, conscientemente, tenta justificar esta idéia,
usando argumentos criados pelos estudiosos da psicologia, cuja finalidade
é analisar o comportamento da criança de forma sistemática, desconhecendo,
porém, que a psicologia não leva só em conta a idade cronológica, mas,
também, a idade comportamental e o coeficiente intelectual e o coeficiente
intelectual.Pode existir muita diferença entre uma e outra criança da
mesma idade. As experiências variam. Uma série de fatores pode determinar
essa variação de comportamento, como temperamento, educação, condição
social, aptidões, alimentação etc.

A história registra grandes nomes que se destacaram como meninos prodígios
e que são dignos de menção, como Pepito Arriola, que, aos três anos e três
meses, improvisou árias harmoniosas no piano, impressionando os
assistentes do Congresso de Psicologia realizado em 1900, em Paris.
William Sidis, que aos dois anos lia e escrevia, aos quatro falava quatro
línguas, aos dez resolvia os mais complexos problemas de geometria,
fazendo uma conferência sobre a quarta dimensão. Hamilton, que aos três
anos estudava o hebraico, aos 13 sabia 12 línguas, e aos 18 era um dos
maiores matemáticos do seu tempo. Liszt dava o seu primeiro concerto aos
nove anos e aos 14 compunha uma ópera. Mozart, que aos cinco anos compôs
uma sinfonia, aos 11 produziu duas óperas.Young, que aos oito sabia falar
seis línguas. Gass, que aos três serolvia problemas de aritmética. Miguel
Ângelo, que aos oito sabia todos os segredos da arte. Macauley, que aos
oito escreveu um compêndio de história universal. Gianella de Marco,que
aos cinco regeu nos teatros de Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo
orquestras compostas por 100 músicos, assombrando grandes regentes.
A precocidade infantil é sempre uma realidade. É verdade que não é tão
comum na proporção desses acontecimentos que mostramos, mas está claro de
que crianças com muito menos de sete anos já formaram um juízo de valor,
tais como: bem ou mal, certo ou errado.

Essa idéia de que até os sete anos a criança é inocente pode ser uma
maneira de não se querer assumir responsabilidade por ela. Pior do que
isso, é o desinteresse que se demonstra pela criança no que tange à
oportunidade de aceitar a Cristo, seja ou não filha de crente. Uma vez
acreditando que até os sete anos ela é inocente, logo que chegasse a essa
idade, deveria ser levada à experiência da conversão. Porém, o que se vê
não é isso. A criança geralmente passa dos sete, dos oito, nove ou mais e
nunca encontra esta oportunidade, a menos que demonstre mais idade pelo
tamanho.

Depois de uma abençoada mensagem, o pregador faz o apelo. Dez pessoas
decidem-se por Cristo. Dessas, quatro são crianças. Então, ele diz: “Há
seis almas para Cristo e também algumas crianças”. Além de não serem
contadas, elas não são almas. Caberia aqui uma perguntar: A alma tem
tamanho? Outros há que, se uma criança decide-se por Cristo, dizem: “Não
há ninguém hoje”. E não oram por ela.

O segundo argumento é utilizar a expressão “das tais é o reino de Deus”
como doutrina absoluta de salvação infantil, sem considerar os limites
demonstrados pelo contexto bem à luz dos originais. Em Lucas 18.15-17,
começa a narrativa de Jesus abençoando as crianças com o termo BREFOS que
no grego quer dizer: crianças recém-nascidas. Embora o texto empregue
depois o termo PAIDION que indica crianças, sem especificar idade,
subentende-se ainda, pelo contexto de Marcos 10.13-16, que seja crianças
pequenas,porque diz que Eles as tomou nos braços.
Enquanto inocente a criança está debaixo da proteção do sangue de Jesus.

Seria uma contradição da própria lei,condenar um inocente, Jô 4.7. O que
questionamos, no entanto, é o limite dessa inocência, uma vez que a Bíblia
não nos dá. O que não podemos, é tentar abrir uma porta onde as chaves não
nos chegaram às mãos. Buscar no conceito popular ou na psicologia as bases
para estabelecer um dogma, é procurar chaves emprestadas; ademais, não é
fora da Bíblia que buscamos os fundamentos da nossa fé.

Enquanto Jesus falou que “das tais é o reino de Deus” (referindo-se a
criancinhas), em Mateus 18, depois de haver dado uma lição de conversão
aos discípulos, tomando uma criança como modelo, pela sua simplicidade,
humildade e facilidade de acreditar, Ele concluiu dizendo que não é da
vontade do Pai que nenhum desses pequeninos se perca. Ora, nesta
expressão, ele admitiu esta possibilidade. Em Apocalipse 20.12, João diz
que viu grandes e pequenos que compareciam para juízo diante do trono do
Cordeiro. O termo “pequenos” é MIKRON (gr), o mesmo que se emprega para
crianças, freqüentemente na Bíblia, como no texto já citado em Mateus 18,
onde aparece pelo menos três vezes.

SEGUNDO PLANO
Jesus disse: “Vede, não desprezeis algum destes pequeninos”, Mt 18.10.
Desprezar ou atrapalhar a aproximação delas a Cristo, é fator histórico. E
Jesus reparou isso com pesar. Os discípulos e Jesus repreendiam as pessoas
que traziam as criancinhas para serem tocadas por Ele. Jesus, então,
disse-lhes que não as estorvassem, mas que as deixassem vir a Ele, Mt
19.13-16. Noutra ocasião, Jesus depois de haver curado cegos e coxos, foi
adorado pelas crianças. Os sacerdotes e os escribas ficaram indignados com
elas, quando Jesus lhes mostrou que o louvor perfeito emanava delas, Mt
21.15-16.

Estamos falando da oportunidade que devemos dar às crianças, sem
considerar as muitas formas de desprezo que lhes demonstramos como: piores
lugares, quando não são retiradas do culto, para não atrapalhar a reunião,
ou mesmo quando são levadas ao culto de oração pelos pais como forma de
castigo, etc. Depois, se não permanecem na igreja, a culpa é lançada sobre
eles. Será que somos capazes de assumir uma parte nessa culpa? A única
coisa que pode dar segurança para alguém é a salvação. Como poderemos ver
essas crianças de hoje, como jovens e adultos, na igreja, se privamos
dessa gloriosa experiência?

IDADE DE OURO
Todos deveriam saber, especialmente os pais e os professores da Escola
Dominical, que a melhor fase de aprendizagem para a criança é a que vai
dos dois aos seis anos de idade. A faixa que muitos desprezam, por
considerarem o ponto alto da inocência, é a que melhor se pode incutir a
fé na sua mente que se apresenta como um vaso desocupado e apto para
receber tudo o que se quiser pôr com a vantagem de não se perder. O que
vem à mente da criança, nessa época, é para ficar. Veja o caso de Moisés
em Êxodo 2.9: “Então lhe disse a filha de Faraó: Leve este menino e
cria-mo”.

A palavra "criar", no hebraico, quer dizer: terminar de amamentar. O
alactamento terminava aos quatro ou cinco anos. Foi nesse período que
Moisés precisou de sua mãe, Joquebede, para depois voltar ao palácio e ser
tratado como filho da filha de Faraó.
Foi neste período de sua vida que ele recebeu toda a informação sobre o
seu povo e seu Deus. A maior escola de sua vida não foi a que cursou aos
pés dos sábios do Egito, mas aos pés de sua mãe. Ouvindo as suas palavras,
ele adquiriu fé para tomar a iniciativa de estar ao lado de seu povo a
ponto de livrá-lo do Egito, Hb 11.24-26.

Um outro exemplo é o de Timóteo. Paulo fê-lo lembrar das sagradas letras
que havia aprendido de sua mãe e de sua avó, quando era menino. O termo
traduzido aí por meninice (2Tm 3.15) no original é BREFOS, que compreende
o início da vida: recém-nascidos ou criança apenas.
Concluímos, por estes exemplos,que perdemos grandes oportunidades para com
as nossas crianças, por considerá-las incapazes de algo que Deus preparou
para todos os homens: um caminho que nem mesmo os loucos são privados de
seguirem, Is 35.8.
Acreditemos no potencial infantil, seja para aprender, como para decidir,
e devolvamos a elas um direito que lhes foi conferido pelo próprio Senhor
Jesus!

Estereótipo: uma idéia que fixou de tão repetida que foi
Soterologia: estudo ou tratado sobre salvação
Lembremos aqui que os discípulos cometiam ainda sérios enganos até a
morte e ressurreição de Jesus, porém depois deram provas de
amadurecimento.

Autor:
Pr. Walter Brunelli é casado com Márcia e pai de dois filhos, Ricardo e Rebeca.
Presidente da AD Bereana em São Paulo.
O pastor Walter Brunelli é conhecido também por seus livros como:
A Vontade de Deus e Você; O Que Você Pode Fazer na Plenitude do Espírito;
Conhecidos Pelo Amor; Levando a Sério o Sobrenatural e muitos outros.
Comentarista de lições para Escola Bíblica Dominical e articulista de
várias revistas e jornais evangélicos, é também o presidente da APEL –
Academia Paulista Evangélica de Letras.

Fonte: http://www.adjoinville.org.br/infantil/secoes/artigos/019.htm

[http://sandramac2007.multiply.com/journal]

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